Resumo
No cenário em que a televisão brasileira entra em uma nova fase, com a implantação da TV digital - que completa um ano nesse mês de dezembro de 2008 - este Tendências apresenta dados históricos de audiência da televisão brasileira para os anos 1950 e 1960. Os registros compilados referem-se aos anos iniciais de implantação da TV e dos métodos de medição de audiência inaugurados pelo IBOPE nos anos de 1954 para a cidade de São Paulo e de 1955 para a cidade do Rio de Janeiro e foram sistematizados pelo CESOP a partir da reinserção da Coleção dos “Boletins de Assistência da Televisão” (1954-1978) em novas bases de dados. A partir de um total de 160 Boletins, o CESOP produziu 1904 gráficos que registram a evolução da audiência televisiva dos referidos centros urbanos segundo informações sobre sexo, idade, classe socioeconômica e distribuição geográfica urbana dos telespectadores da TV. Os dados também permitiram resgatar e apresentar a programação da TV nos seus anos de formação e os gêneros de programas produzidos, assim como os gostos e preferências constituídos. Os dados que apresentamos neste Encarte são uma pequena amostra deste trabalho e dão ao leitor uma idéia de como a TV assumiu seu papel como meio de integração e vinculação dos indivíduos à rede material e simbólica que marca o estilo da vida moderna (WILLIAMS, 2003[1974]; SILVERSTONE, 1994), ocupando espaço ao lado das demais formas de atividade cultural e social. Estes dados instigam a investigar como a TV brasileira emergiu como um intermediário poderoso das arenas de formação de identidades e de intercâmbio de opiniões nos grandes contextos urbanos, assumindo, ainda, o centro de um conjunto de relações públicas e privadas, domésticas e não-domésticas. Assim, o Encarte Tendências mostra que a tv emerge como um membro a mais da família e que seu papel no ambiente doméstico, observado através dos dados de audiência e programação, indica as dinâmicas de interação familiar, das identidades ali conformadas e das relações de gênero e idade, bem como a transformação da posição da família na sociedade contemporânea (SILVERSTONE, op. cit.). Pelo lado da televisão como meio produtor e veiculador das ‘condições materiais’ da inter-relação cultural, o Encarte Tendências mostra alguns dados da evolução do perfil de sua programação, levando-se também em conta a interação com as escolhas e preferências do público. A distribuição dos programas responde às formas de adaptação ao público, relativa, em última instância, ao processo de construção da sociedade de massas no país.