Vol. 22, nº 3, 2016

Vencedores e perdedores nas eleições presidenciais 2014: o efeito da derrota nas urnas sobre a satisfação e o apoio em relação à democracia no Brasil

DOI: https://doi.org/10.1590/1807-01912016223550

Autores

Maria do Socorro Sousa Braga

Departamento de Ciências Sociais

Universidade Federal de São Carlos

Gabriel Ávila Casalecchi

Departamento de Ciência Política

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

Universidade Federal de Minas Gerais

Resumo

Nas últimas duas décadas do século passado a democracia estabeleceu-se como regime hegemônico em várias partes do mundo. Teoricamente, essas democracias funcionam segundo preceitos constitucionais originados de consenso normativo resultante de negociação entre forças políticas que legitimam, assim, o processo de escolha de governantes. Ou seja, deve haver consenso mínimo sobre as regras subjacentes à escolha dos governantes e, posteriormente, adesão aos resultados de todos os atores envolvidos. Consequentemente, um importante sinal do quão legítima é a democracia de um país é o comportamento dos seus perdedores. Diante desse princípio democrático, este artigo parte de duas questões, tendo a democracia brasileira como estudo de caso. A primeira busca responder se a derrota nas urnas em 2014 afetou os graus de satisfação e de apoio dos perdedores em relação à democracia brasileira. Ou seja, perder as eleições fez com que os eleitores derrotados extrapolassem a crítica ao governo eleito, alcançando o próprio regime democrático e, portanto, as “regras do jogo”? Já a segunda indagação, de cunho mais explicativo, procura identificar quais condições são capazes de intensificar as características que podem aumentar ou diminuir o gap entre vencedores e perdedores no que se refere ao apoio ao regime democrático. A principal conclusão é a de que os perdedores das eleições são mais insatisfeitos com o desempenho da democracia do que os vitoriosos, porém não existem diferenças no que tange à adesão à democracia. Esse resultado ocorre mesmo quando controlado por diferentes características demográficas, sociais e individuais, entre elas a avaliação do governo Dilma Rousseff e a rejeição ao PT.

Palavras-chave

legitimidade democrática; apoio à democracia; eleições brasileiras de 2014

Abstract

In the last two decades of the 20th century, democracy has established itself as a hegemonic regime in many parts of the world. Theoretically, these democracies function according to constitutional precepts originating in normative consensus resulting from negotiations between political forces that legitimate the choice of representatives. In other words, a minimal consensus on the rules of the game must exist and, subsequently, adherence to the outcomes by all the players involved. Consequently, one of the signals of how legitimate a democracy is lies in the behavior of its losers. Given this democratic principle, this article seeks to answer two questions, with Brazilian democracy as a case study. The first asks if the defeat at the ballot box in 2014 affected the degree of satisfaction with and support for democracy among the losers in Brazilian democracy. In other words, did losing the election induce the losers to go beyond criticisms of the elected government to attack the democratic regime itself and, therefore, the “rules of the game”? The second question, which is more explanatory, seeks to identify the conditions under which the gap between winners and losers, in terms of support for the democratic regime, widens or narrows. The main conclusion is that the losers in elections are more unsatisfied with the functioning of democracy than the winners, although there are no differences with regard to commitment to democracy. This result occurs even when controlling for different demographic, social, and individual characteristics, including the evaluation of Dilma Rousseff’s government and the rejection of the Workers’ Party (PT).

Keywords

democratic legitimacy; support for democracy; 2014 brazilian elections

Résumé

Au cours des deux dernières décennies du siècle dernier, la démocratie s'st établie comme le régime hégémonique dans diverses parties du monde. Théoriquement, ces démocraties fonctionnent selon des dispositions constitutionnelles résultant de la négociation de consensus normatif entre les forces politiques qui légitiment, de la sorte, le processus du choix des dirigeants. Autrement dit, il doit y avoir un consensus minimal sur les règles qui sous-tendent le choix des dirigeants et l'adhésion, par la suite, aux résultats de toutes les parties prenantes. Par conséquent, un signe révélateur du degré de légitimité de la démocratie d'un pays est le comportement de ses perdants. Compte tenu de ce principe démocratique, cet article est basé sur deux questions, la démocratie brésilienne constituant une étude de cas. La première cherche à savoir si la défaite électorale en 2014 a affecté le degré de satisfaction et de soutien des perdants envers la démocratie brésilienne. En d'autres termes, le fait d´avoir perdu les élections n'a-t-il pas poussé les électeurs vaincus à généraliser la critique envers le gouvernement élu, atteignant le régime démocratique lui-même et, par conséquent, les "règles du jeu"? La deuxième question, de nature plus explicative, cherche à identifier quelles sont les conditions en mesure d'améliorer les caractéristiques qui peuvent augmenter ou diminuer l'écart entre les gagnants et les perdants quand il s´agit de soutenir le régime démocratique. La principale conclusion est que les perdants des élections sont moins satisfaits de la performance de la démocratie que les vainqueurs, mais il n'y a aucune différence en ce qui concerne le respect de la démocratie. Ce résultat se confirme même lorsqu'il est contrôlé par différentes caractéristiques démographiques, sociales et individuelles, y compris l'évaluation du gouvernement Dilma Rousseff et le rejet du PT.

Mots Clés

la légitimité démocratique; le soutien à la démocratie; les élections brésiliennes de 2014

Resumen

En las dos últimas décadas del siglo pasado, la democracia se ha consolidado como el régimen hegemónico en diversas partes del mundo. En teoría, estas democracias funcionan de acuerdo a preceptos constitucionales originados del consenso normativo resultante de la negociación entre las fuerzas políticas que legítima, así, el proceso de elección de los gobernantes. Es decir, tiene que haber un consenso mínimo sobre las reglas que subyacen a la elección de los gobernantes y el posterior acceso a los resultados de todas las partes interesadas. En consecuencia, una señal importante de cuan legítima es la democracia de un país, es el comportamiento de los perdedores. Teniendo en cuenta este principio democrático, este artículo se basa en dos cuestiones retomando la democracia brasileña como un estudio de caso. La primera trata de responder si la derrota en las urnas en 2014 afectó el grado de satisfacción y de apoyo de los perdedores en relación a la democracia brasileña. En otras palabras, ¿perder las elecciones hizo que los votantes derrotados extrapolaran la crítica al gobierno electo, alcanzando el régimen democrático en sí y, por lo tanto, las "reglas del juego"? La segunda pregunta, de naturaleza más explicativa, busca identificar qué condiciones son capaces de mejorar las características que pueden aumentar o disminuir la brecha entre ganadores y perdedores cuando se trata de apoyar al régimen democrático. La principal conclusión es que los perdedores de las elecciones no están satisfechos con el desempeño de la democracia de los vencedores, pero no hay diferencias con respecto a la adhesión a la democracia. Este resultado se produce incluso cuando se controla por diferentes características demográficas, sociales e individuales, incluyendo la evaluación del gobierno de Dilma Rousseff y el rechazo del PT.

Palabras Claves

la legitimidad democrática; apoyo a la democracia; las elecciones brasileñas de 2014

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