Abrindo a caixa-preta: uma análise empírica dos determinantes de sucesso das demarcações de terras indígenas no Brasil
DOI: https://doi.org/http://doi.org/10.1590/1807-019120243019Autores
Resumo
O presente artigo visa dar uma resposta à seguinte questão: por que algumas Terras Indígenas são demarcadas enquanto outras não? Primeiramente, arrolamos as variáveis institucionais e não institucionais sugeridas pela literatura especializada que podem influenciar o processo demarcatório. Em seguida, aplicamos a técnica de Qualitative Comparative Analysis (QCA) sobre um crisp set composto por 40 casos de Terras Indígenas em diversas regiões do país. Demonstramos que: 1) a coesão intragrupal das lideranças indígenas, em conjunção com atos de mobilização e protesto indígena, respondem pela maioria dos casos de demarcação verificados; e 2) possibilidade de obtenção da demarcação por uma via composta por fatores puramente burocráticos. Concluímos apontando para a importância de que o Estado brasileiro, no tratamento com os distintos grupos indígenas do país, não atue para agravar suas possíveis divisões internas, sob pena de neutralizar um fator crucial para a garantia dos direitos territoriais desse segmento populacional.
Abstract
The objective of this article is to answer the question: why are some Indigenous Lands demarcated, while others are not? It first lists the institutional and non-institutional variables suggested by the specialized literature that can influence the demarcation process. It then applies the Qualitative Comparative Analysis (QCA) technique on a crisp set composed of 40 cases of Indigenous Lands in various regions of the country. The article demonstrates that: 1. Intragroup cohesion of indigenous leaders in conjunction with acts of mobilization and indigenous protest account for most cases of demarcation verified; 2. The possibility to obtain demarcation by means of purely bureaucratic factors. The conclusion indicates the importance that the Brazilian state, in its treatment of the different indigenous groups in the country, does not act to aggravate their possible internal divisions, which could neutralize a crucial factor for guaranteeing the territorial rights of this population segment.
Résumé
Cet article vise à répondre à la question suivante : pourquoi certaines terres autochtones sont-elles délimitées, tandis que d'autres ne le sont pas ? Pour ce faire, nous énumérons d'abord les variables institutionnelles et non institutionnelles suggérées par la littérature spécialisée qui peuvent influencer le processus de démarcation. Ensuite, nous avons appliqué la technique Qualitative Comparative Analysis (QCA) sur un crisp set composé de 40 cas de terres autochtones. Nous démontrons que : 1. la cohésion intragroupe des leaders indigènes, conjuguée aux actes de mobilisation et de contestation indigène, explique la plupart des cas de démarcation vérifiés ; 2. la possibilité d'obtenir la démarcation par une voie composée de facteurs purement bureaucratiques. Nous concluons en soulignant l'importance que l'État brésilien, dans ses relations avec les différents groupes autochtones du pays, n'agisse pas pour aggraver leurs éventuelles divisions internes, sous peine de neutraliser un facteur crucial pour garantir les droits territoriaux de ce segment de la population.
Resumen
Este artículo tiene como objetivo responder la siguiente pregunta: ¿Por qué algunas Tierras Indígenas están demarcadas y otras no? Para ello, en primer lugar, enumeramos las variables institucionales y no institucionales sugeridas por la literatura especializada que pueden influir en el proceso de demarcación. Luego, aplicamos la técnica de Qualitative Comparative Analysis (QCA) en un crisp set compuesto por 40 casos de Tierras Indígenas en diferentes etapas del ciclo de demarcación en todas las regiones del país. Demostramos que: 1. la cohesión intragrupal de líderes indígenas, en conjunto con actos de movilización y protesta indígena, explican la mayoría de los casos de deslinde verificados; 2. la posibilidad de obtener la demarcación a través de una vía compuesta de factores puramente burocráticos. Concluimos señalando la importancia de que el Estado brasileño, en el trato con los diferentes grupos indígenas del país, no actúe para agravar sus posibles divisiones internas, so pena de neutralizar un factor crucial para garantizar los derechos territoriales de este segmento de la población.