Eleições, estabilidade democrática e socialização política no Brasil: análise longitudinal da persistência de valores nas eleições presidenciais de 2002 a 2010
DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-62762011000200004Autores
Resumo
O objetivo deste artigo é examinar os debates recentes sobre os fatores que explicam a estabilidade democrática no Brasil. Com base no conceito de socialização política examina-se o impacto que as eleições têm no fortalecimento democrático e a importância de normas e valores para o futuro da democracia. Considera-se que as eleições presidenciais no contexto político brasileiro se constituem em um momento importante do processo de socialização política. Para verificar esta proposição este trabalho utiliza como base de dados as pesquisas do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) de 2002, 2006 e 2010. É analisado se o fator idade gera diferenças em relação aos valores e atitudes manifestados pelos entrevistados com um tempo maior de experiência democrática, contribuindo na formação de uma cultura política congruente com a democracia, ou se são definidos pelo contexto eleitoral, tendo como base a divisão da população em coortes por faixa etária e na escolha eleitoral em cada pleito. Com base nos dados analisados identifica-se uma mudança da cultura política em direção à valorização da democracia, mas com a manutenção de contradições que indicam a manutenção de uma cultura híbrida, que não favorece a democracia representativa poliárquica.
Abstract
The main objective of this article is to examine the recent debates about the factors that explain democratic stability in Brazil. Based upon the concept of political socialization it analyses the impact of elections on the strengthening of democracy and the importance of norms and values for the future of democracy. We think that presidential elections in the Brazilian case could be characterized as an important moment in the political socialization process. To test this proposition we use the data from the Brazilian Electoral Study (ESEB) conducted in 2002, 2006 and 2010. It is analyzed if age generates differences in the values and attitudes manifested by people, with more democratic experience leading, to the materialization of a political culture congruent with democracy, or if they are defined by the electoral context, analyzing the dimensions dividing population by cohorts by age, and by electoral choice in each turnout. We conclude that political culture has changed to support more democratic values, but the contradictions remaining indicates a hybrid culture that does not favor a poliarchic representative democracy.