Opinião Pública – Vol. 17, Nº 2 2011
Artigos desta edição
Autores: Maria do Socorro Sousa Braga e Jairo Pimentel Jr.
Há décadas a constatação corrente no Brasil é de que os partidos pouco importam para explicar o comportamento dos eleitores brasileiros. Entretanto, esse cenário de baixa identificação partidária contrasta com a observação de que, ao menos para as eleições presidenciais a competição eleitoral tem se estruturado em torno de duas organizações partidárias: PT e PSDB. O objetivo deste artigo é demonstrar que mesmo que os partidos de fato não estejam internalizados em termos de identidade partidária, estamos vivenciando importante movimento no sentido de uma divisão do eleitorado entre as duas principais organizações políticas em termos de simpatia partidária, redundando na estruturação de um sistema bipartidário ao nível da disputa nacional. Com base nas respostas dos entrevistados do ESEB 2002, 2006 e 2010 sobre as eleições presidências verificamos que nesses pleitos as simpatias eleitorais pelo PT e PSDB se mostraram um dos principais componentes de explicação do voto nos candidatos. Este artigo também destacou que apesar das simpatias partidárias serem uma heurística utilizada para decisão do voto entre os eleitores com maior escolaridade, foi possível observar que mesmo entre os menos escolarizados essa variável foi fundamental para explicar o voto, evidenciando que mesmo entre eleitores com menor conhecimento político, os partidos têm auxiliado na decisão do voto.
Autores: Lúcio Rennó e Vitor Peixoto
Este trabalho analisa os determinantes do voto em Dilma Rousseff no primeiro e segundo turnos das eleições presidenciais de 2010, usando diversos indicadores políticos, econômicos e sociais. São exploradas as variáveis tradicionalmente indicadas como determinantes do voto, como visões sobre o estado da economia, identificação partidária, avaliação do governo, assim como também fatores explorados de forma menos sistemática, como percepções sobre corrupção e religião. Por último, o trabalho inova ao acrescentar a esse debate o efeito da mobilidade social sobre o voto. Assim, o presente estudo capta o efeito político da ascensão social de setores da população brasileira, a dita “nova classe média”. O trabalho utiliza dados do Estudo Eleitoral Brasileiro de 2010.
Autores: Denise Paiva e Gabriela da Silva Tarouco
Este artigo pretende contribuir para o debate sobre o papel dos partidos na escolha eleitoral no Brasil e tem como objetivo central verificar como a preferência partidária, operacionalizada em termos de uma escala de apreço pelos partidos individualmente, se relaciona com variáveis socioeconômicas e com a decisão do voto. Os resultados indicam que a renda familiar não explica as preferências dos eleitores pelos partidos, que, por sua vez, também não explicam o voto para deputado federal, sugerindo uma confirmação das hipóteses presentes na literatura a respeito do declínio da identificação partidária e da fraqueza dos laços sociais dos partidos com o eleitorado.
Autores: Ednaldo Ribeiro e Yan Carreirão
O trabalho investiga a evolução dos sentimentos partidários dos eleitores brasileiros entre 2002 e 2010 e suas relações com variáveis atitudinais e de comportamento dos eleitores. Inicialmente, é realizada uma análise descritiva geral da evolução dos sentimentos partidários dos eleitores entre 2002 e 2010, utilizando dados dos ESEB (Estudos Eleitorais Brasileiros) 2002, 2006 e 2010. A seguir, os sentimentos partidários positivos em relação ao PT e ao PSDB são tomados como preditores de variáveis atitudinais (identificação ideológica, atitudes em relação a estatismo, igualdade e democracia) e do voto, a partir de análises multivariadas, também com base nos ESEB 2002 a 2010. O trabalho conclui mostrando que há diferenças interessantes entre eleitores que manifestam sentimentos em relação ao PT e ao PSDB, quanto a atitudes relativas a temas políticos relevantes; além disso, mostra, também, que esses sentimentos estão, ainda, fortemente associados ao voto para presidente.
Autores: Marcello Baquero e Rodrigo Stumpf Gonzalez
O objetivo deste artigo é examinar os debates recentes sobre os fatores que explicam a estabilidade democrática no Brasil. Com base no conceito de socialização política examina-se o impacto que as eleições têm no fortalecimento democrático e a importância de normas e valores para o futuro da democracia. Considera-se que as eleições presidenciais no contexto político brasileiro se constituem em um momento importante do processo de socialização política. Para verificar esta proposição este trabalho utiliza como base de dados as pesquisas do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) de 2002, 2006 e 2010. É analisado se o fator idade gera diferenças em relação aos valores e atitudes manifestados pelos entrevistados com um tempo maior de experiência democrática, contribuindo na formação de uma cultura política congruente com a democracia, ou se são definidos pelo contexto eleitoral, tendo como base a divisão da população em coortes por faixa etária e na escolha eleitoral em cada pleito. Com base nos dados analisados identifica-se uma mudança da cultura política em direção à valorização da democracia, mas com a manutenção de contradições que indicam a manutenção de uma cultura híbrida, que não favorece a democracia representativa poliárquica.
Autor: Luciana Fernandes Veiga
Este trabalho tem como objetivos monitorar o tamanho da onda decrescente da identidade partidária e de sua onda reversa; acompanhar as mudanças nos perfis dos eleitores no que se refere à escolaridade, região e ideologia; contribuir para o debate sobre a composição da mudança com análise da taxa de identidade partidária em meio a diferentes segmentos sociais. Constata-se que o perfil dos eleitores partidários no Brasil, após sofrer não desprezíveis mudanças em um período curto, encontra-se em 2010 com mais escolaridade do que em 2006; mais voltado para o Norte/Centro Oeste e o Nordeste e mais conservador do que nos dois outros momentos.
Autores: Heloisa Dias Bezerra e Pedro Santos Mundim
Neste artigo apresentamos os resultados de um estudo preliminar sobre os efeitos de variáveis midiáticas no processo de decisão do voto dos brasileiros para a eleição presidencial de 2010. Os resultados de modelos logísticos multinomiais estimados com os dados do ESEB 2010 sugerem que duas das cinco variáveis midiáticas utilizadas – debates e atenção política – influenciaram o voto dos eleitores a favor de Serra, e contra Dilma, respectivamente no 1º e no 2º turnos da eleição. Ao mesmo tempo, outras duas variáveis apresentaram resultados contra intuitivos: a maior exposição aos jornais impressos e ao programa Brasil Urgente aumentavam a probabilidade de o eleitor preferir abster-se, votar em branco ou nulo do que votar em Dilma. Ainda que esta seja uma análise inicial, esses resultados estão mais em sintonia com as visões que defendem um papel mais ativo da mídia durante as eleições do que com aquelas que defendem a sua irrelevância.
Autor: Maria Teresa Miceli Kerbauy
A analise das eleições presidenciais de 2010 apontaram para um eleitorado cujas escolhas se diferenciam por regiões, seguindo o mapa da desigualdade do Brasil. A pauta da campanha esteve ligada à continuidade do governo Lula, especialmente à expansão da cobertura dos programas de transferência de renda e ampliação do consumo, incentivando a discussão sobre o papel desses programas na decisão do voto. Nesse, sentido, o artigo investiga a relação entre conhecimento e participação nos programas de redistribuição de renda, o impacto na percepção política do eleitorado e no voto e sua relação com a questão regional. Para esta análise utilizamos os dados do survey eleitoral ESEB realizado após as eleições de 2010.
Autores: Elizabeth Balbachevsky e Denilde Holzhacker
Este artigo investiga o grau de convergência das opiniões sustentadas pelas elites e pela população brasileira sobre as políticas de redução da desigualdade social e redução da pobreza. A literatura internacional sobre esse tema se divide entre aqueles que vêem uma divisão entre elite e massa em torno dessa questão, e aqueles supõem que as dificuldades enfrentadas pelas novas democracias para garantir o crescimento econômico e desenvolvimento social teriam favorecido a formação de um novo consenso social unindo elites e massas, onde as políticas de redução da pobreza e de desigualdade ocupam um lugar preeminente. Nossa análise comparou os resultados alcançados na pesquisa Estudo Eleitoral Brasileiro (CSES-ESEB) de 2010, com os dados coletados junto a uma amostra da elite brasileira em 2009. Os resultados da análise sustentam a hipótese de que é possível falar em um consenso amplo unindo a elite e a população em torno de uma agenda de políticas voltadas para a diminuição da desigualdade no país e para a erradicação da pobreza.
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