Opinião Pública – Vol. 04, Nº 1 1996
Artigos desta edição
Autores: Derek Wynne, Justin O’Connor e Dianne Phillips
Este artigo estuda o consumo de bens culturais na cidade de Manchester, Inglaterra, e através de resultados obtidos em survey, os autores mapeiam como a ocupação do centro da cidade por novos grupos de intermediários culturais redefine o uso espacial do antigo centro.
Autor: Fabián Echegaray
Este artigo aborda os aspectos da cultura política das classes trabalhadoras no Brasil, com base em resultados de survey realizado em 1990.
Contrariando uma tese corrente, o autor sustenta que o aspecto dominante no conjunto de opiniões e atitudes políticas da classe trabalhadora e o apoio à democracia.
Autor: Mauro Pereira Porto
Este artigo analisa o efeito dos meios de comunicação de massa em conjunturas eleitorais. Com base em pesquisa de tipo painel realizada em 1992 na cidade de São Paulo, o autor afirma a influência da imagem produzida sobre os políticos pela televisão na formação das preferências políticas dos eleitores paulistanos.
Autores:
Este Tendências destaca o tema da Reforma Agrária através de pesquisas de opinião pública realizadas nas décadas de 1960, 1970, 1980 e no ano de 1995.
Apesar dos dados disponíveis representarem opiniões setorizadas, de públicos específicos, é notável a regularidade do apoio à reforma agrária verificada em todo o período.
Em 1962, os dados de opinião pública mostram que a reforma agrária já despontava como um dos problemas internos mais urgentes no país. Naquele ano houve eleições para governadores e este era um tema obrigatório dos discursos políticos. Um dos resultados da pesquisa então realizada aponta que a abordagem deste tema pelos candidatos aos governos não era um fato gerador de rejeição ao candidato. Uma outra questão apontava que o líder das Ligas Camponesas, Francisco Julião, era uma personalidade muito conhecida que despertava opiniões muito divergentes.
Os dados de 1963 fazem parte do acervo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) depositado no AEL (Arquivo Edgar Leuenroth do IFCH/Unicamp). É interessante notar que as opiniões gerais continuavam muito favoráveis à reforma agrária, mas que eram sensivelmente maiores entre os entrevistados com nível de escolaridade maior, um indicador do grau de esclarecimento sobre o tema. Os dados, no entanto, não permitem se esta era uma questão que mobilizava apenas as elites da época, pois a mesma regularidade não era verificada quanto aos níveis sócio-econômicos.
Em 1972, no auge do regime militar, os dados de opinião pública dos brasileiros em geral e do segmento de sindicalizados mostram que pouca coisa havia mudado após 10 anos. A tendência geral, sobretudo entre os sindicalizados, era extremamente favorável à necessidade e à urgência da reforma agrária.
As pesquisas da década de 1980, realizadas logo após o início da democratização em 1985, abordam a questão da utilização de terras improdutivas para fins de reforma agrária. Tanto as opiniões coletadas pelo IDESP (Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo) no município de São Paulo, em 1986, quanto os dados do IBOPE, de 1987, para todo o país mostram que quanto à problemática sobre as extensões de terra improdutivas o apoio à função social da terra prevalece sobre o direito de propriedade. Em 1988, a pesquisa DATAFOLHA a mostra que havia uma grande aceitação do texto elaborado pelo Congresso Constituinte prevendo a reforma agrária apenas em propriedades improdutivas.
A pesquisa mais recente é um estudo realizado pela ABRA (Associação Brasileira para a Reforma Agrária) e apresenta opiniões colhidas no município de Campinas – SP, em 1995. Apesar da pequena amostra pesquisada, as opiniões coletadas indicam a presença de uma significativa tendência à priorização no meio urbano à realização da reforma agrária. Um aspecto interessante que destacamos nessa pesquisa é o conjunto de opiniões que indica a reforma agrária como uma questão de importância nacional e não apenas um problema setorizado do campo.
Na segunda parte dessa edição são apresentadas opiniões sobre os governos em vários níveis. Para o governo federal está mostrada a evolução da avaliação do presidente Fernando Henrique Cardoso desde antes da sua posse em 1º de janeiro de 1995, até o fim do primeiro ano de governo, e uma comparação com seus antecessores, também ao final do primeiro ano de mandato.
Ao nível geral, as avaliações sobre Fernando Henrique se apresentam favoráveis para a maioria relativa. Apesar da decepção inicial com o novo governo, indicada pela queda da expectativa de 70% dos entrevistados aferida antes da posse, para um faixa de apoio entre 36% e 42% em comparação com seus antecessores, o primeiro ano de mandato de Fernando Henrique termina com uma avaliação bem mais favorável que os obtidos por Fernando Collor e Itamar Franco.
A avaliação do Plano Real completa o quadro de opiniões sobre o governo federal. O Plano tem conseguido uma estabilidade da maioria absoluta de opiniões mais favoráveis quanto aos benefícios que ele traz para o país. É interessante notar que essas opiniões mais favoráveis voltam-se para uma dimensão nacional, enquanto que as opiniões específicas, sobre as expectativas inflacionárias, o poder de compra e sobretudo o desemprego não têm a mesma tendência predominantemente positiva.
As demais avaliações contemplam onze estados da federação e o Distrito Federal, além das evoluções específicas no primeiro ano dos governos dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro.
São apresentadas, ainda, as avaliações de prefeitos de onze capitais, nas quais destacamos a prefeitura de São Paulo com o acompanhamento das avaliações dos três anos de mandato do prefeito Paulo Maluf.