Opinião Pública – Vol. 03, Nº 2 1995
Artigos desta edição
Autor: Fabián Echegaray
A influência dos fatores econômicos sobre os resultados eleitorais na América Latina tem sido uma das questões socialmente mais polêmicas e academicamente menos exploradas no debate geral sobre os determinantes do voto na região. Em grandes linhas, dois argumentos contrapostos têm prevalecido para entender os resultados de tais contendas: para um, a sorte do partido do governo está determinada por seu desempenho econômico, o que tem sido chamado de “voto econômico”; para outro, esse cenário representa um referendum político concentrado nos temas mais importantes para a cidadania e os sentimentos de pertencimento partidário, mas sobretudo, na liderança demonstrada pela situação no fim de sua administração, medida em termos da popularidade do presidente. Utilizando dados macroeconômicos e de opinião pública originais na análise quantitativa de ambas hipóteses para 30 eleições realizadas entre 1982 e 1994 em 15 países da região, verifica-se um maior respaldo para a hipótese do “referendum político”, na medida em que o impacto da popularidade presidencial sobre a distribuição de votos obtida pela situação supera os efeitos de diferentes variáveis macroeconômicas.
Autor: Cesar Cansino
Este artigo aponta que o caráter semi-competitivo das eleições no México estabelece situações onde o processo de decisão do voto adquire uma lógica própria que deve ser analisada de maneira específica. Ao analisar os resultados das eleições presidenciais mexicanas de 1988 e 1994, e as características do voto de oposição nestes pleitos, o autor mostra as dificuldades da transição democrática na país, vinculadas sobretudo à hegemonia do PRI no campo eleitoral, e à sua condição de partido de estado.
Autor: Gustavo Venturi
Este artigo focaliza o papel das pesquisas pré-eleitorais nos processos de decisão de voto no Brasil, e considera os aspectos éticos –colocando o campo na moralidade como o lugar da problematização dos conflitos a respeito do uso e divulgação das pesquisas -, aspectos metodológicos – apontando a importância da utilização dos métodos científicos para a legitimidade das pesquisas -, e jurídicos, no sentido da transparência garantida em lei quanto às técnicas e condições de produção das pesquisas. O autor analisa algumas imprecisões da legislação eleitoral vigente – lei 8.713 – quanto ao assunto, no sentido de afirmar que o direito dos eleitores à informação prevalece sobre qualquer outro interesse possivelmente ferido pela divulgação das pesquisas pré-eleitorais.
Autores:
Este Tendências apresenta um conjunto de dados internacionais de opinião pública, destacados da série de surveys Eurobarômetro, referentes à Comunidade Européia no ano de 1989. A série Eurobarômetro teve início em 1970, quando a Comissão da Comunidade Européia (CCE) pioneiramente conduziu surveys simultaneamente entre os países membros, repetindo novamente a iniciativa em 1971 e 1973. A partir de 1974, a CCE oficializou o projeto, tornando-o então bi-anual. Os surveys Eurobarômetro foram planejados para proverem um monitoramento regular de tendências políticas e sociais na Comunidade Européia, através de questões que aferem o conhecimento e atitudes do público para com a CCE e outras instituições, bem como políticas em geral relacionadas à Comunidade Européia. Algumas pesquisas da série abordam outros temas como comportamento de consumidores, opiniões sobre meio-ambiente, questões de gênero, problemas energéticos, de saúde e educação, etc. Além do conjunto inigualável de dados reunidos nesta série de surveys, destacase neste projeto a importância desta linha de pesquisa de caráter comparativo entre nações e entre tendências temporais, como uma das mais frutíferas fontes para a compreensão de processos políticos e sociais, linha que Tendências tem procurado privilegiar. Os dados aqui apresentados versam sobre as eleições para o Parlamento Europeu no ano de 1989, e destacam algumas opiniões sobre a democracia do ponto de vista normativo e também empírico, e sobre a efetivação da união européia. Com isso, pretende-se contribuir para se compreender um pouco mais sobre as variações de atitudes entre países ligados por um processo comum que une a todos sob o rótulo de “Mercado Comum Europeu”. As tendências de opinião aparecem organizadas sob uma perspectiva global (o conjunto da Comunidade Européia) e nacional, onde figuram diferenças de opiniões entre os países membros. Além disso, são apresentados outros recortes dentre o conjunto dos públicos da CE, o que permite várias nuances de opiniões tanto através do destaque de algumas variáveis “clássicas” (sindicalização, religiosidade, ou idade) quanto outras variáveis complexas forjadas pela equipe de pesquisadores que coordenou o projeto, a saber: “índice de preferência partidária no Parlamento Europeu”; “índice de apoio à Comunidade Européia”; e “índice de mobilização política”. De forma sintética, pode-se dizer que o “índice de preferência partidária no Parlamento Europeu” compreende uma recodificação da “preferência partidária” de acordo com o partido ou lista que o entrevistado votou nas eleições européias daquele ano, e de acordo com os grupos formados dentro do Parlamento (socialistas, populares, liberais, etc.); o “índice de apoio à Comunidade Européia” mede tendências de “forte oposição” à “forte apoio” pela recodificação de questões relacionadas ao Mercado Comum; e o “índice de mobilização política” analisa níveis de envolvimento político, pela combinação das direções de “identificação partidária” e níveis de “mobilização cognitiva”, ou seja, capacidades individuais de participação política, pela combinação dos indicadores de nível de educação formal e freqüência de discussões políticas. Uma explicação detalhada sobre a elaboração desses índices encontra-se no final dessa edição. Alguns destes índices aparecem no artigo: INGLEHART, R. Democratização em perspectiva global. Opinião Pública, v. 1, n. 1, p. 9-42, 1993. Ver também INGLEHART, R. Culture shift in advanced industrial society. Princeton: Princeton University Press, 1990; e REIF, K; INGLEHART, R. (eds.). Euro-barometer: the dynamics of European opinion. London: MacMillan, 1991.