Opinião Pública – Vol. 15, Nº 1 2009
Artigos desta edição
Autores: Maria Teresa Gonzaga Alves e José Francisco Soares
Em qualquer sociedade, diferenças entre os indivíduos são consistentemente observadas quanto ao lugar que ocupam na hierarquia social. Tais diferenças se associam profundamente às oportunidades educacionais, às trajetórias ocupacionais, ao acesso aos bens e serviços, ao prestígio social, ao comportamento político e social, etc. Neste artigo, assume-se que todas essas diferenças podem ser descritas adequadamente por um único construto denominado de nível socioeconômico (NSE). Este trabalho tem como objetivos principais: discutir formas de medir o NSE nas pesquisas sociais e produzir uma medida de NSE que expresse as variações entre famílias representadas nessas pesquisas, bem como interpretar a escala proposta. A consistência da proposta teórica é verificada com dados da Pesquisa Geração Escolar 2005 - Polo Belo Horizonte.
Autores: Lúcio Rennó, Elaine Licio e Henrique Carlos de O. Castro
O presente artigo analisa o impacto de ser beneficiário do Programa Bolsa Família do governo federal na decisão de voto na eleição de 2006 e na avaliação atual do Presidente Lula da Silva e contribui para a crescente literatura que explora o impacto desse programa na distribuição de voto em Lula. Contudo, diferentemente de outros estudos, são analisados aqui dados ao nível individual, testando um modelo estatístico multivariado em uma amostra probabilística nacional usando o Barômetro das Américas de 2008. Os resultados indicam um forte impacto de ser beneficiário do programa no voto em Lula e em avaliações positivas de seu desempenho.
Autores: Luis Felipe Miguel e Flávia Biroli
O artigo delineia as hipóteses centrais de uma ampla pesquisa empírica em andamento, que busca entender a confluência entre gênero, mídia e representação política. Trata-se de analisar a presença e atuação de mulheres no campo político e sua presença nos meios de comunicação de massa, no Brasil, buscando entender as relações que se estabelecem entre essas esferas no que diz respeito, especificamente, à representação política de mulheres. Em cada uma dessas esferas, existem mecanismos que restringem não só a presença de mulheres na política como também as formas que tal presença assume. Assim, o artigo procura avançar na discussão sobre de que maneira a permanência de estereótipos de gênero constrange tanto a ação política das mulheres quanto a visibilidade desta ação no noticiário jornalístico, num processo que se realimenta.
Autores: Mario Fuks e Fabrício Mendes Fialho
O artigo analisa o impacto das estratégias de comunicação realizadas pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) durante a década de 1990 sobre a opinião pública da sociedade do estado de Minas Gerais. Pretende-se avaliar se a opinião pública em relação ao legislativo estadual se mostrou “resistente” às inovações institucionais ou se ocorreram mudanças ao longo dos treze anos cobertos pelos dados disponíveis. A análise comparativa no tempo e com outras instituições políticas não nos autoriza a falar sobre uma excepcionalidade da ALMG no que se refere a sua imagem pública. Em grande medida, a imagem da ALMG, em termos de confiança e avaliação, não foge do padrão brasileiro em relação às instituições políticas. O impacto do processo de inovação institucional é perceptível apenas sobre um público restrito: aqueles que consumiram as mensagens e comunicações produzidas pela ALMG e veiculadas no radio e na televisão.
Autor: Angela Cristina Salgueiro Marques
As relações entre comunicação, mídia e democracia local são discutidas a partir da análise da campanha “Quem gosta de BH tem seu jeito de mostrar”, lançada pela prefeitura da cidade de Belo Horizonte, em maio de 2003. Duas hipóteses distintas originam-se de uma imagem ideal de participação política que guia a campanha. Por um lado, a campanha enfatiza uma divisão de tarefas entre os cidadãos que teria como função melhorar a qualidade de vida da cidade. Por outro lado, ela impõe uma restrição à participação política oferecendo aos cidadãos um falso status de colaboradores no processo de resolução dos problemas coletivos. O uso estratégico da mídia cria uma sensação de proximidade entre o governo municipal e os cidadãos, embora um processo real de deliberação não ocorra entre os habitantes, ou entre esses e os atores institucionais. A política discursiva da campanha reside em designar atores e ações específicas, assinalando suas contribuições ao bem-coletivo como um caminho capaz de gerar uma coesão política e cultural interna na cidade.
Autor: Luiz Claudio Lourenço
O presente artigo trata de um objeto de pesquisa muito comum na literatura estrangeira sobre Comunicação Política, mas ainda pouco estudado no Brasil: a propaganda negativa (negative ads). Caracterizada normalmente por ataques aos adversários, a utilização de propaganda negativa não representa novidade em eleições majoritárias no Brasil. Contudo, seu estudo retórico e a observação de sua repercussão junto ao eleitor ainda permanecem muito pouco estudados em nosso país. Nossa contribuição aqui é justamente fazer essas análises com base nas eleições presidenciais de 2002, marcadamente um dos pleitos presidenciais recentes que mais veicularam propaganda negativa. Este artigo se divide em 5 partes: 1 - um breve histórico do que é a propaganda negativa; 2 - os fatores que contribuíram para a veiculação da propaganda negativa em 2002; 3 - a repercussão na mídia da propaganda negativa em 2002; 4 - a análise retórica da propaganda negativa e 5 - a repercussão da propaganda negativa junto ao eleitor comum.
Autor: Mônica Machado
O artigo avalia a produção dos discursos do HGPE na TV dos partidos de dois candidatos à reeleição para a Presidência da República: Fernando Henrique (PSDB) em 1998 e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2006. É objeto de reflexão indagar até que ponto as campanhas orientadas para reconduzir o mandatário ao poder têm estruturas estratégicas discursivas similares nos dois contextos, apesar de inscrições partidárias e orientações políticas distintas. Como metodologia, utiliza procedimentos para entender os elementos retóricos de cada campanha e apreender as estratégias de persuasão. Nota-se que o estímulo ao voto retrospectivo, o discurso a favor da continuidade da gestão administrativa, o lugar de autoridade do candidato-Presidente e a ênfase em discurso programático de cunho econômico são enunciados proferidos pelos mandatários nos dois contextos. É lícito supor, então, que a retórica da reeleição favorece posições privilegiadas na disputa.
Autores: José Eisenberg e Teresa Cristina de Souza Cardoso Vale
Este artigo tem por objetivo apresentar a simulação eleitoral como um novo modelo para estudar o comportamento eleitoral, partindo do pressuposto de que as interações sociais são fundamentais para a decisão de cada eleitor. Como as pesquisas de opinião pública utilizam informações referentes apenas ao momento da entrevista, elas não conseguem assimilar as alterações na escolha de cada eleitor dadas pela influência que eles recebem a todo momento, seja pelas interações com a mídia ou com outros eleitores. Ao contrário das pesquisas de opinião, o simulador demonstra ser uma interessante ferramenta de análise eleitoral justamente por ter como premissa essas interações. Pretende-se aqui fazer uma revisão bibliográfica dos principais estudos sobre comportamento eleitoral, pesquisas de opinião e trabalhos que já apresentaram, de alguma maneira, a simulação eleitoral. Em seguida, pretende-se descrever os avanços no modelo teórico e no modelo interativo do simulador eleitoral como sendo uma ferramenta de pesquisa científica. Finalmente, apresentaremos os resultados obtidos, bem como análises para as simulações feitas nas eleições de 2002 e 2004.
Autor: Sheyla Christine Santos Fernandes
Este estudo tem como objetivo analisar os efeitos dos valores e do preconceito social nas atitudes políticas a partir de uma perspectiva psicossociológica. Os valores são estudados em função de quatro indicadores: valores materialistas, pós-materialistas, religiosos e hedonistas; o preconceito social é abordado através da orientação à dominância social; as atitudes políticas são estudadas em duas dimensões: credibilidade nas instituições políticas e favorabilidade aos políticos. Participaram deste estudo 205 estudantes universitários de João Pessoa. Os resultados apresentam relações parciais entre estas variáveis, com a igualdade social (inverso da dominância), a valorização da religiosidade e dos valores materialistas predizendo as atitudes políticas.
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