Opinião Pública – Vol. 12, Nº 1 2006
Artigos desta edição
Autores: Mitchel A. Seligson, John A. Booth e Miguel Gómez B.
Recentes quedas acentuadas da confiança no governo dos públicos de massa de democracias institucionalizadas reacenderam o interesse pela teoria e pesquisa sobre a legitimidade. Há muito tempo os teóricos concebem a legitimidade política como multidimensional e sustentam que ela vai do apoio abstrato a uma comunidade política subjacente aos princípios do regime à avaliação mais concreta do desempenho do regime, das instituições e dos atores. Porém, surpreendentemente, pouca pesquisa empírica avaliou a validade desse constructo teórico. Utilizando um survey nacional da Costa Rica, uma democracia estável e bem sucedida, investigamos se a legitimidade política existe empiricamente e examinamos sua estrutura. Usando análise fatorial confirmatória, encontramos evidências que sustentam a estrutura multidimensional do apoio político. Identificamos também certas limitações tanto da pesquisa teórica como da empírica, relacionadas com a operacionalização equivocada e a especificação de vínculos empíricos que não conseguimos detectar. Também encontramos e remediamos um surpreendente erro de omissão, já que as pesquisas anteriores não haviam percebido o governo local como um alvo de crenças legitimidoras.
Autores: Elizabeth Balbachevsky e Denilde Oliveira Holzhacker
Este trabalho investiga possíveis efeitos do processo de privatização de empresas estatais, levado à cabo pelo governo FHC, sobre as atitudes e opiniões do eleitorado brasileiro acerca da presença do Estado na economia. O estudo utiliza um survey pós-eleitoral realizado no final do ano de 2002, que constitui a base de dados ESEB (Estudo Eleitoral Brasileiro), patrocinada pela CAPES. A investigação está centrada na análise dos padrões de respostas dados pelos entrevistados, quando solicitados a opinar sobre qual setor –iniciativa privada ou governo - deveria ser responsável pelo provimento de diferentes serviços e produtos à população. A análise encontrou uma forte coerência nessas respostas, o que permitiu produzir uma escala de atitudes relativa à privatização. Ademais, foi possível estabelecer correlações significativas entre essas atitudes e a campanha eleitoral de 2002, particularmente o voto declarado pelo eleitor.
Autor: Eva-Maria Trüdinger
A pesquisa norte-americana sobre tolerância tradicionalmente discute a influência da educação sobre a tolerância política. Esses debates são transferidos para o contexto alemão e o artigo tenta complementar as pesquisas anteriores sobre tolerância com uma combinação de explicações baseadas em valores e descobertas sobre os sistemas de crença de massa e sobre as heurísticas na tomada de decisão. Supõe-se que os níveis de educação e sofisticação política de uma pessoa determinam sua atitude de tolerância política, pois causam um impacto sobre a relevância dos valores e das disposições ideológicas enquanto princípios abstratos para decisões individuais em situações de tolerância. Como resultado de nossa análise empírica, enfatizamos a influência separada da sofisticação política e a natureza contextual das atitudes tolerantes, em parte devido a diferenças individuais no manuseio dos princípios abstratos.
Autor: Fernando Antônio Azevedo
Utilizando os modelos de análise propostos por Hallim e Mancini para comparar sistemas de mídia e sistemas políticos, o artigo descreve, classifica e discute o sistema de mídia brasileiro e sua relação com o sistema político no atual período democrático tendo como foco o comportamento do jornalismo político. São enfatizadas na análise as coberturas eleitorais da chamada grande imprensa durante as eleições presidenciais (1989, 1994, 1998 e 2002) e as mudanças operadas do ponto de vista da diversidade externa e interna do sistema de mídia, bem como da sua capacidade de promover o debate pluralista.
Autores: Renato M. Perissinotto e Mariana B. Braunert
Embora a maior parte dos estudos sobre cultura política tenha por foco a análise dos valores políticos dispersos na população como um todo, as atitudes partilhadas por aqueles que operam diretamente o sistema político - as elites - já tem sua importância reconhecida, principalmente no que concerne ao impacto que exerce sobre a qualidade e estabilidade do regime democrático. Levando em conta que a relação entre os valores políticos das elites e a democracia deve passar pela análise das atitudes das elites também regionais e não só nacionais, este artigo analisa, com base em dados de survey, as opiniões políticas dos parlamentares paranaenses do período de 1995 a 2002. Pretende-se apontar a importância que a variável “posição ideológica” possui para entender as diferenças de adesão ao sistema democrático encontradas entre os parlamentares de esquerda e de direita.
Autor: Yan de Souza Carreirão
O trabalho analisa os padrões ideológicos das coligações realizadas nas eleições para governador, deputado federal, deputado estadual e prefeito, no período 1986/2004, em Santa Catarina. O objetivo principal é o de verificar em que medida a ideologia constitui um obstáculo à realização de coligações “inconsistentes” e se há mudança nos padrões de coligação ao longo do período. A análise revela que no início da vigência do atual sistema partidário a proporção de coligações ideologicamente inconsistentes era pequena em relação ao conjunto das candidaturas lançadas. Ao longo do tempo o número deste tipo de coligação cresce, particularmente nas duas últimas eleições.
Autor: Francisco Paulo Jamil Almeida Marques
Este artigo examina teoricamente algumas das dimensões da interface entre democracia e novas tecnologias digitais de comunicação e informação. Começando por um reconhecimento do estado da arte acerca da categoria “esfera pública”, a proposta é avaliar as possibilidades de estabelecimento de uma versão virtual deste espaço discursivo. Para isso, procura-se apresentar os discursos a favor e os discursos contrários a plausibilidade do conceito de esfera pública virtual. Tais argumentos servem para fundamentar a proposta aqui defendida de esfera pública virtual enquanto conversação civil, ou seja, os debates desenvolvidos em listas de discussão e fóruns on-line abertos a qualquer usuário atuam de modo mais eficaz como espaço destinado à formação complementar de opiniões do que como um espaço decisório por excelência. A forma democrática de governo tem, assim, nas redes telemáticas, um canal alternativo para fomentar a participação dos cidadãos.
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