Opinião Pública – Vol. 12, Nº 2 2006
Artigos desta edição
Autor: René Millán
O capital social – pela confiança, reciprocidade e conectividade social supostas – aumenta e agiliza as possibilidades de cooperação espontânea entre os indivíduos. Com o aumento da cooperação ocorreria um desempenho de governo mais eficiente. Este estudo analisa a complexa relação entre confiança e o desempenho institucional democrático em três cidades mexicanas. A partir do estudo de caso pergunta-se: Existe uma relação determinada entre confiança e desempenho institucional? Quais fatores fazem a mediação entre eles? Que tipo de relação se estabelece entre esses dois elementos fundamentais para a democracia? Que peso têm os outros componentes do capital social (reciprocidade, associativismo, etc) e que peso tem o contexto institucional nesta relação? Os dados sugerem que o capital social, particularmente seu componente de confiança, não se relaciona com uma maior eficiência governamental de forma direta. É plausível supor, em conseqüência, que se o capital social é indispensável para coordenar ações e facilitar a cooperação, sua eficácia coletiva e seu impacto no desempenho de governo estão também moldados por outro tipo de fatores tanto sociais como políticos ou institucionais.
Autores: Jana Morgan Kelly, Rosario Espinal e Jonathan Hartlyn
A lenta mudança da natureza da diferença de gênero responde tanto a mudanças sociais, como urbanização, educação, o ingresso das mulheres na força de trabalho e a democratização, quanto a esforços combinados por movimentos sociais e líderes políticos para a ampliação dos direitos da mulher. Esses fatores claramente tiveram impacto na República Dominicana na última década, influenciando as diferenças de gênero no país. Avaliamos a natureza e a evolução das diferenças de gênero na Rep. Dominicana mo período de 1994 a 2004, utilizando dados de surveys nacionais – Demos surveys – realizados em 1994, 1997, 2001 e 2004. A análise desses surveys indica que aspectos do que tem sido denominado uma ‘diferença de gênero tradicional’ permanece no país com relação ao engajamento cívico, interesse político e atitudes democráticas. Ao mesmo tempo, essa diferença desaparece com relação à participação eleitoral , e uma ‘diferença moderna de gênero’ emerge pela primeira vez com relação às atitudes sobre o papel da mulher na política. Idade e escolaridade têm efeitos diferenciais significativos e substantivos no conjunto de atitudes de homens e mulheres dominicanos nesse período.
Autor: Victor Manuel Durand Ponte
O artigo busca analisar para o caso mexicano a relação entra a eficácia cidadã, definida como a percep-ção pelos cidadãos de sua capacidade de influência na solução de seus problemas, no curso das institui-ções e na confiança nas instituições públicas. A hipótese é que a confiança é um processo que se cons-trói na experiência cotidiana da vida pública do cidadão e para desenvolvê-la utiliza dados de pesquisas da Secretaria de Governo de 2000 e 2003.
Autor: Vivian Schwarz-Blum
A Bolívia passou por um grande processo de reforma institucional desde seu retorno à democracia, em 1982, reconhecido internacionalmente como um dos mais profundos da América Latina. Apesar de todos os esforços do Estado boliviano para aperfeiçoar e modernizar suas instituições, e apesar das reformas bem sucedidas em setores fundamentais do governo, a Bolívia tem um dos níveis mais baixos de confiança nas instituições dos países latino-americanos e os dados mostram indícios de que a confiança nas instituições políticas tende a diminuir com o tempo. Ao mesmo tempo, a Bolívia é o país mais pobre da América do Sul; tem os graus mais altos de corrupção na administração pública e, nos últimos anos, um ambiente político cada vez mais instável. Há indícios de que os efeitos de uma polarização regional de interesses, as percepções negativas da situação econômica e da corrupção e níveis baixos de conhecimento político da população boliviana sejam preditores confiáveis dos baixos níveis de confiança institucional que consistentemente encobrem a melhoria do desempenho institucional dos governos bolivianos.
Autor: Lucio Rennó
As organizações da sociedade civil têm um papel didático na instrução de seus membros sobre política que extrapola as questões imediatas de interesse dessas organizações? A maior parte da literatura, especialmente aquela sobre o orçamento participativo (OP) do Partido dos Trabalhadores do Brasil, sustenta que o OP é uma estrutura de oportunidade para que os indivíduos se reúnam e debatam não só problemas locais, mas também discutam política num sentido mais amplo. A mesma lógica se aplica a outras formas de militância, tais como participação em sindicatos, partidos políticos, associações de bairro e grupos de igreja. Este trabalho procura testar, usando dados longitudinais de opinião pública de eleitores brasileiros coletados nas eleições de 2002, se os militantes da sociedade civil organizada são, de fato, mais bem informados sobre política, especificamente, sobre questões eleitorais. Além disso, este trabalho testa também se potenciais diferenças de informação causadas por gênero, raça e classe são atenuadas pela participação em organizações da sociedade civil.
Autor: Gabriel E. Vitullo
As graves crises políticas e sociais sofridas por vários países latino-americanos nos últimos anos exigem uma urgente reformulação dos modelos teórico-analíticos com os quais têm sido estudados os processos de democratização no continente. O propósito deste trabalho é refletir criticamente sobre este tema, discutindo, ao mesmo tempo, a necessidade de superar a concepção elitista, institucionalista e governocêntrica da democracia que está por trás desses modelos.
Autor: Cláudia Feres Faria
Este artigo pretende analisar, a partir de uma experiência recente de governo no âmbito estadual – a gestão de Olívio Dutra (1999-2002) no Rio Grande do Sul –, o impacto da implantação de um conjunto de fóruns participativos na relação entre os poderes executivo e legislativo neste estado, bem como no aprimoramento dos mecanismos de controle público sobre os mesmos. O objetivo é, especificamente, analisar os efeitos dos fóruns participativos promovidos pelo Orçamento Participativo estadual (OP-RS) – uma iniciativa do executivo estadual – e pelo Fórum Democrático – uma iniciativa do legislativo estadual – sobre a prática democrática no Rio Grande do Sul.
Autor: Christina W. Andrews
Usando dados de nove países – Argentina, Brasil, Chile, República Tcheca, Polônia, Federação Russa, Finlândia, Alemanha e Estados Unidos – coletados pelo projeto World Values Survey, o artigo analisa a validade de quatro variáveis que potencialmente avaliam o nível de legitimidade do setor privado em relação ao setor público. Esta análise dá-se no contexto das discussões sobre o futuro das reformas pró-mercado, implementadas em diversos países nos últimos 20 anos. A investigação adotou uma estratégia em dois níveis: primeiramente, foram analisadas as freqüências agregadas por países e, em seguida, foram examinados os resultados de uma análise bivariada visando verificar a consistência interna das variáveis. O artigo conclui que as quatro variáveis consideradas não constituem uma dimensão capaz de avaliar a legitimidade do setor público versus a do setor privado.
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