Opinião Pública – Vol. 13, Nº 2 2007
Artigos desta edição
Autor: Marcello Baquero
Este artigo tem como objetivo central examinar a influência do processo eleitoral presidencial em 2002 no Brasil na constituição de capital social em 2006, tanto na dimensão institucional quanto informal. Tomando como base de análise os dados do ESEB (Estudo Eleitoral Brasileiro), postulamos a hipótese de que em condições de adversidades políticas e éticas, procedimentos formais pouco incidem na formação de capital social institucional e empoderamento político dos cidadãos, levando-os a manterem predisposições negativas em relação à política. Tal situação gera uma cultura política desconfiada, propiciando a prevalência de fatores de natureza populista e subjetiva na eleição e reeleição de um candidato, neste caso, Luiz Inácio Lula da Silva.
Autor: Lúcio R. Rennó
O artigo mostra o impacto dos escândalos de corrupção sobre o voto do eleitor brasileiro na eleição presidencial de 2006. A pergunta central é se aqueles que consideraram a corrupção como principal problema deixaram de votar em Lula. O artigo avalia se e como os componentes retrospectivo, ideológico e partidário influem no voto bem como o impacto de fenômenos circunstanciais sobre ele. Os dados mostram que as percepções sobre a corrupção têm um peso maior na escolha de candidatos de partidos políticos vizinhos no espectro ideológico brasileiro e peso menor na escolha de candidatos de coalizões partidárias muito distantes neste espectro. Assim, na escolha de voto entre Lula e Alckmin, fatores como percepções sobre a economia, avaliação do governo Lula e certo componente partidário foram mais importantes e serviram de escudos para proteger Lula das acusações de corrupção no cenário da reeleição.
Autores: Denilde Oliveira Holzhacker e Elizabeth Balbachevsky
O artigo analisa os impactos da estratificação social e da identidade ideológica sobre o voto no Brasil nas eleições presidenciais de 2002 e 2006 e identifica os valores e atitudes associados ao voto em Lula nos dois pleitos. A análise baseada nos resultados do ESEB mostra o comportamento independente das duas variáveis explicativas do voto para presidente: em 2002, a estratificação social foi pouco relevante para explicar a decisão eleitoral, sobretudo o voto em Lula, que esteve significativamente associado com a auto-identidade ideológica. Em 2006, as variáveis impactam o voto para presidente de modo inverso. Não obstante essas diferenças, nos dois momentos, o voto em Lula em específico é mais fortemente explicado pela simpatia e identidade com o candidato.
Autor: Yan de Souza Carreirão
O artigo analisa as relações entre a identificação ideológica do eleitor brasileiro, seus “sentimentos” em relação aos partidos e o voto nas eleições presidenciais de 2002 e 2006. A principal hipótese testada, a partir da análise dos dados das duas ondas do ESEB (Estudo Eleitoral Brasileiro), é a de que após o primeiro mandato do presidente Lula houve, na percepção dos eleitores brasileiros, uma diluição das diferenças ideológicas entre os partidos, o que redundaria em uma menor associação entre identificação ideológica e voto na eleição presidencial de 2006 comparativamente à de 2002. O artigo investiga também se houve mudanças na associação entre os “sentimentos partidários” dos eleitores e seu voto.
Autor: Luciana Fernandes Veiga
O artigo analisa as mudanças e continuidades na identidade partidária e na avaliação pelos eleitores dos quatro grandes partidos brasileiros: PT, PMDB, PSDB e PFL/DEM, entre 2002 e 2006. Os dados mostram uma redução no número de eleitores com identificação partidária no período e o PT como a agremiação com a maior perda. Não obstante, nenhum dos três outros partidos foi diretamente beneficiado com a perda petista. Quanto aos perfis dos eleitores de cada partido, a comparação entre os dois pleitos mostra que o PT e o PMDB apresentaram as mudanças mais significativas. A análise final mostra que a avaliação positiva do governo vigente e a avaliação positiva do partido situacionista são as variáveis mais associadas à avaliação dos partidos.
Autor: Simone R. Bohn
O artigo analisa o comportamento eleitoral dos votantes evangélicos no Brasil e sua percepção sobre o regime democrático. Com base nas respostas dos entrevistados do ESEB 2002 e 2006 sobre o voto nas eleições presidenciais, a comparação do padrões de voto revelou a formação de apenas um importante grupo de identidade, mas não de interesse: enquanto no segundo turno de 2002, o candidato Lula foi o destinatário da maioria dos votos evangélicos identificados com o candidato Garotinho no primeiro turno, em 2006, o candidato à reeleição, Lula, não obteve margens de apoio entre os evangélicos significativamente maiores do que as conseguidas entre o restante dos eleitores. O artigo também destaca que os evangélicos são os eleitores mais insatisfeitos e ambivalentes com relação ao funcionamento da democracia no Brasil.
Autores: Denise Paiva, Maria do Socorro S. Braga e Jairo Tadeu Pires Pimentel Jr.
O artigo verifica em que medida os partidos políticos brasileiros têm sido instrumentos balizadores na formação da preferência eleitoral e na estruturação do voto. Para tanto, explora variáveis do ESEB 2002 e do ESEB 2006 que possibilitam analisar como os eleitores avaliam os partidos enquanto organizações, os vínculos afetivos entre o eleitorado e os partidos e o papel das variáveis socioeconômicas e demográficas na explicação do impacto dos partidos na conformação da escolha eleitoral, representatividade e sentimentos partidários. Os resultados mostram a negativa avaliação dos partidos em 2002 e 2006 e que, em 2006, a clivagem governo X oposição não mais diferenciou os partidos no quadro da escolha eleitoral.
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