Opinião Pública – Vol. 11, Nº 1 2005
Artigos desta edição
Autor: Pippa Norris
A ascensão da direita radical está aberta a múltiplas interpretações. A questão abordada neste artigo é saber se muitos desses partidos criaram uma base social duradoura entre os eleitores e, se assim for, quais setores sociais apresentam maior probabilidade de apoiá-los. A primeira parte discute os marcos teóricos alternativos oferecidos pelos trabalhos clássicos dos anos 1950 e 1960, a tese da “nova clivagem social” comum durante a última década e a teoria do desalinhamento partidário. Em seguida, o artigo analisa hipóteses concorrentes sobre a base social do voto na direita radical em quinze países, usando dados retirados do Survey Social Europeu de 2002 e do Estudo Comparativo de Sistemas Eleitorais, 1996-2001. A segunda parte trata do papel de indicadores socioeconômicos, enquanto a terceira parte examina a duradoura diferença entre os sexos e os padrões geracionais de apoio. A conclusão considera as implicações desses resultados para compreender a base da popularidade da direita radical e para a estabilidade e longevidade desses partidos.
Autor: José Álvaro Moisés
Ao mesmo tempo em que apóiam o regime democrático per se, os brasileiros revelam uma ampla e contínua desconfiança em suas instituições. O autor apresenta os fundamentos da convivência entre esses dois fenômenos e em seguida, partindo do tratamento dado pela literatura ao conceito de confiança política e dos fatores a ela associados (por exemplo, legitimidade política e desempenho econômico dos governos), propõe que a confiança nas instituições radica-se na avaliação que os cidadãos, partindo de sua experiência, fazem do modo como aquelas desempenham a missão para a qual foram criadas.
Autores: Timothy J. Power e Giselle D. Jamison
Este trabalho examina o contexto, as causas e as conseqüências da desconfiança nos políticos no atual período democrático da América Latina. Em termos de contexto, demonstramos que a confiança muito baixa nos políticos da América Latina é meramente um dos aspectos de uma síndrome de baixa confiança generalizada. Em termos das causas da desconfiança, examinamos três características proeminentes do desenvolvimento democrático nos últimos quinze anos: fraco desempenho econômico da maioria das novas democracias da região, escândalos de corrupção e o uso instrumental das instituições políticas pelos governantes. Em termos de conseqüências, examinamos o apoio fraco e desigual à democracia em toda a região, que parece estar relacionado causalmente com a desconfiança nos políticos. No entanto, evitamos o alarmismo sustentando que esses resultados devem ser contextualizados à luz da citada síndrome de baixa confiança multidimensional da América Latina. Ademais, o reservatório de atitudes autoritárias entre os indivíduos é fragmentário e raramente se expressa de forma coerente na ação política. Além disso, como a pesquisa sobre democracias tanto avançadas como emergentes demonstrou recentemente, os cidadãos estão cada vez mais dispostos a separar suas avaliações dos governantes (com freqüência, negativas) da avaliação da democracia como tipo de regime.
Autores: Marcelo Baquero, Aaron Schneider, Bianca Linhares, Douglas Santos Alves e Thiago Ingrassia Pereira
Apesar do crescente interesse por formas alternativas de participação política, entre as quais o Orçamento Participativo (OP), pouco se tem estudado se essas novas modalidades estão incidindo na estruturação de um contrato social mais eficiente e duradouro. Talvez tal situação seja atribuída ao fato de que se considera que o pagamento de tributos é uma obrigação legal e, portanto haveria pouco a ser analisado neste terreno. A perspectiva deste artigo é distinta, argumenta-se que a forma como os cidadãos se posicionam a respeito do pagamento de impostos relaciona-se com outros domínios da política, tais como a confiança institucional e os níveis de envolvimento político. Por meio de uma pesquisa tipo survey os resultados deste estudo apontam para a existência de uma dimensão estrutural negativa no que se refere ao pagamento de tributos, fragilizando o contrato social vigente.
Autor: Valia Pereira Almao
Este artigo analisa a preferência democrática e sua consistência nas atitudes dos venezuelanos entre 1995 e 2000, com base em dados provenientes de pesquisas nacionais. As tendências históricas da atitude democrática são consideradas a partir de características sócio-demográficas, políticas e ideológicas, e sua consistência é analisada segundo o apoio que teria um governo militar ou um líder forte, e a partir da análise da simpatia partidária. Em todos esses aspectos, obtêm-se incongruências com os elevados índices de aceitação da democracia apresentados, o que permite estabelecer a presença de predisposições autoritárias que, se estimuladas, poderiam reduzir no tempo o valor que a democracia tem para os venezuelanos.
Autor: Julian Borba
Este artigo trata das inter-relações entre os conceitos de cultura política, ideologia e comportamento eleitoral na busca da compreensão do chamado “eleitor brasileiro” através da apresentação de algumas vertentes explicativas. São definidos os conceitos de cultura política e ideologia, além da apresentação das principais teorias do comportamento eleitoral e das tipologias do voto no Brasil. O estudo conclui por um eleitor de tipo personalista, o qual decide seu voto, principalmente, a partir dos atributos individuais, de competência e honestidade dos candidatos. Por fim, busca-se uma explicação de origem histórica para esse padrão de comportamento eleitoral.
Autor: Renata Menasche
Este artigo analisa o trabalho realizado pela mídia na construção de representações sociais sobre os cultivos e alimentos transgênicos no Rio Grande do Sul, evidenciando sua ação na amplificação da polarização política sobre o tema no estado. Para isso, são focalizados dois episódios, ocorridos nos municípios gaúchos de Cachoeirinha e de Não-Me-Toque. Os tratamentos conferidos por veículos de comunicação a esses episódios são apreendidos de modo a possibilitar a observação das características da ação da mídia gaúcha na construção de representações sociais referentes ao tema.
Autor: Gláucio Ary Dillon Soares
Os fenômenos do crime, da violência e do homicídio estão fortemente relacionados com fatores políticos, basta observar a incidência da violência policial e de Estado nas ditaduras e nos regimes totalitários ou o papel das políticas públicas e da sociedade civil democrática em coibi-los. Transformar regimes em variáveis é um dos passos fundamentais para se entender a evolução das taxas de mortes ou por causas externas nos países que passaram por mudanças de regimes políticos, como os países da Europa Oriental e do antigo bloco soviético. No caso latino-americano, não houve um quadro extremado de dissolução social semelhante mas, mesmo assim, experimentou-se uma diferença significativa nas taxas de homicídios antes e depois das transições políticas. Os dados relativos ao Brasil mostram a tendência de crescimento dessas taxas durante o regime militar e de estabilidade no período pós-transição democrática, o que rompe com uma visão que destaca o fenômeno inverso, uma espécie de onda de violência acompanhando o fim da ditadura militar.
Autores: