Opinião Pública – Vol. 16, Nº 1 2010
Artigos desta edição
Autor: Célia Mara Ladeia Colen
As abordagens culturalistas, baseadas nos fatores relacionados com a socialização, e institucionalistas, baseadas nos fatores relacionados à experiência com o sistema político, competem pela explicação dos fatores relacionados aos baixos níveis de confiança política na América Latina. Este artigo faz uma breve revisão das duas perspectivas, compara seus poderes preditivos para explicar a confiança política na região. A partir do Latinobarômetro 2005, aplicou-se a técnica do modelo hierárquico linear com o objetivo de considerar a dependência entre as observações no nível do país. A confiança política é maior entre os que apoiam o presidente; entre aqueles que estão em países considerados mais democráticos; entre os indivíduos que avaliam positivamente a situação econômica, as políticas públicas e a capacidade do governo para combater a corrupção e entre os indivíduos com maior sofisticação política. As variáveis culturais, por sua vez, quais sejam, a confiança interpessoal e a avaliação dos concidadãos também aumentam a confiança política, mas têm efeito muito menor do que as variáveis institucionais.
Autores: Julian Borba e Ednaldo Ribeiro
O artigo procura testar no nível individual e para um grupo de quatro países latinoamericanos a hipótese proposta pelos defensores da teoria do desenvolvimento humano sobre a associação entre valores pós-materialistas e uma postura participativa. Utilizando dados produzidos pela Pesquisa Mundial de Valores procuramos verificar em que medida essa afirmação é pertinente no contexto de nações com questões materiais e economicas não resolvidas e caracterizadas como jovens democracias. Através de técnicas de análise bivariada e multivariada constatamos que entre os públicos desses países a participação é mais influenciada por variáveis relacionadas à centralidade social dos cidadãos do que por mudanças nas suas prioridades valorativas, o que leva à conclusão de que a transposição do modelo explicativo sugerido por Inglehart para o cenário latinoamericano é problemática e deve ser avaliada criticamente.
Autores: Luis Fernando Duque, Jorge Arbey Toro e Nilton Montoya
Autores: Flávia Biroli e Denise Mantovani
Este artigo apresenta uma análise da cobertura jornalística ao Programa Bolsa Família durante as eleições presidenciais de 2006. A pesquisa abrange um total de 166 textos que mencionaram o Programa, publicados pelos jornais O Globo, O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e Valor Econômico entre os dias 1º de setembro e 31 de outubro de 2006. Discutimos a dinâmica de produção da agenda eleitoral, observando as disputas, ajustes e acomodações que constituem a cobertura. A análise conjunta das vozes e dos enquadramentos presentes no material permite observar aspectos relevantes das interações entre os campos da mídia e da política no contexto em que a cobertura foi realizada. As conclusões ressaltam a baixa pluralidade do noticiário, associada a representações das eleições de 2006 e da democracia brasileira que têm como aspectos centrais a estigmatização dos eleitores de baixa renda e dos beneficiários de programas sociais.
Autor: Francisco Paulo Jamil Almeida Marques
O artigo investiga as dificuldades mais comuns enfrentadas pelos projetos governamentais voltados para incrementar a participação através do emprego dos media digitais. Após breve diagnóstico dos recursos participativos existentes nos Portais da Presidência da República e da Câmara dos Deputados, é verificado se os constrangimentos técnicos e políticos que a literatura aponta em relação à adoção das ferramentas de comunicação digital se refletem em tais experiências. À luz dos elementos fornecidos pela investigação dos casos empíricos, defende-se o argumento de que promover a participação requer mais do que a oferta de recursos de comunicação, uma vez que cultura cívica e outras peculiaridades de cada democracia são fatores determinantes a influenciarem os padrões de envolvimento político. Se a idéia dos autores mais eufóricos se refere ao argumento de que a Internet torna o "muro" que protege as instituições representativas mais fácil de pular, deve-se considerar que o jogo político tradicional conta, muitas vezes, com artifícios próprios a fim de evitar o emprego efetivo das capacidades da rede digital.
Autores: Lúcio Rennó e Mathieu Turgeon
Não é novidade que o cidadão brasileiro, como outros vivendo em países democráticos, em média sabem pouco sobre seus governos e sobre as orientações ideológicas da maioria dos candidatos e partidos políticos. No entanto, poucos pesquisadores estudaram de maneira sistemática as conseqüências da falta de informação política para a vida democrática. Segundo alguns, a falta de informação afeta de maneira importante as atitudes políticas dos eleitores. Já para outros, a informação política não é relevante para formação de opiniões. O artigo examina essa questão no Brasil, usando pela primeira vez dados de um experimento conduzido em uma pesquisa de opinião pública realizada em 2004. Mais especificamente, examinamos como a informação sobre o governo federal brasileiro afeta as preferências políticas do cidadão em termos de gastos públicos. No experimento utilizado, alguns participantes receberam informação sobre as fontes de renda do governo federal, suas despesas e políticas públicas, enquanto outros entrevistados não receberam qualquer informação adicional. Os resultados indicam que os participantes que receberam informação política preferem menos impostos e redução nos gastos públicos daqueles que não receberam informação política. Estes resultados têm conseqüências importantes para o estudo do processo democrático, pois indicam que uma cidadania mais informada tem atitudes e preferências políticas distintas de uma menos informada.
Autores: Dalson Brito Figueiredo Filho e José Alexandre da Silva Júnior
Como mensurar fenômenos que não podem ser diretamente observados? O principal objetivo desse artigo é demonstrar por que a análise fatorial é a resposta mais adequada para responder a essa pergunta. Metodologicamente, utilizamos um banco de dados com diferentes medidas de democracia para ilustrar como a técnica de análise fatorial de componentes principais pode ser utilizada para medir as duas dimensões da poliarquia propostas por Robert Dahl (1971): contestação e inclusividade. Em termos substantivos, esperamos facilitar a compreensão dessa técnica nas Ciências Sociais em geral e na Ciência Política em particular.
Autor: Maria Inez Machado Telles Walter
O artigo apresenta um estudo comparado da situação social, política, econômica e de saúde da população idosa do Brasil, Espanha e Estados Unidos. Foi feita uma discussão sobre o processo de mudança na estrutura de idades a partir da literatura dos três países. As análises de dados confirmaram as melhorias nas condições de vida do idoso e as mudanças em sua inserção social e em posições morais e políticas. Indicaram também que não há semelhanças ou diferenças entre os países que possam ser atribuídas à sua condição econômica ou à tradição cultural. A dualidade expressa uma transição nesse segmento, tradicionalmente visto negativamente e, hoje, considerado também como apoio econômico e familiar. Espera-se que se consolide a tendência de privilegiar o papel social positivo do idoso pela naturalização do envelhecimento e o estabelecimento de referências analíticas na própria velhice.
Autor: Carlos Wellington de Almeida
Este artigo analisa a política de defesa do Brasil como uma política pública. Como metodologia, fez-se um benchmarking de conceitos e foram tratadas as informações obtidas de forma qualitativa, transpondo, da literatura das políticas públicas, os conhecimentos necessários à compreensão da defesa nacional como bem público provido pelo Estado. A ideia de integração de diferentes áreas do conhecimento domina a pesquisa e se vê refletida, também, nas conclusões relativas à necessidade de integração de diferentes setores da sociedade. Conclui-se que a busca e o entendimento da política de defesa como bem público requerem superar visões preconcebidas e analisar a defesa nacional com ferramentas das políticas públicas.
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