Opinião Pública – Vol. 20, Nº 2 2014
Artigos desta edição
Autor: Fernando Guarnieri
Neste artigo utilizo o Modelo Unificado do Voto de Adams, Merril e Grofman (2005) para compreender melhor o papel das estratégias partidárias e da identificação partidária na decisão do voto. Utilizo o algoritmo NOPP, derivado do trabalho de Adams et al, e os dados do ESEB para verificar as estratégias adotadas pelos candidatos nas três últimas eleições para presidente no Brasil. Enquanto este modelo proporcionou uma boa aproximação da posição dos candidatos do PSDB e de outros partidos que se posicionaram mais ao centro e à direita, ele não foi muito preciso no posicionamento dos candidatos do PT e de outros partidos que se posicionavam mais à esquerda. Isto indica que estes partidos se movem menos pela maximização de votos do que por outros fatores.
Autores: Francisco Paulo Jamil Almeida Marques, Jakson Alves de Aquino e Edna Miola
O objetivo do artigo é refletir sobre as formas de uso do Twitter por parte dos parlamentares com mandato vigente na Câmara dos Deputados durante a Legislatura 2011-2015. Pretende-se investigar que fatores levam os representantes a investirem no Twitter como parte de sua estratégia de comunicação política. São examinados os perfis públicos dos 463 deputados com registro no microblog . Tais contas foram monitoradas semanalmente (entre fevereiro e julho de 2012), a partir do software de estatística “R”. Os resultados apontam correlações entre o uso da ferramenta e atributos como idade e ocupação de cargos de liderança.
Autores: Flávia Biroli e Denise Mantovani
O artigo analisa a cobertura do jornal Folha de S. Paulo ao julgamento da Ação Penal 470, mais conhecido como julgamento do “mensalão”. A partir dele e tendo em mente sua especificidade, discutimos as relações entre a imprensa brasileira e o PT e o modo de organização da pluralidade no jornalismo político no Brasil. Nessa cobertura, a pluralidade corresponde à garantia de espaços restritos para a defesa, circunscrita e autointeressada, de alguns indivíduos diante da narrativa que organiza o noticiário. O noticiário é apresentado, por sua vez, como narrativa colada aos fatos e, como tal, não posicionada. O ângulo apresentado como legítimo para a cobertura é naturalizado ao mesmo tempo em que as posições em disputa, que implicariam recortes distintos para a produção do noticiário, são excluídas ou domesticadas como reações aos fatos. Na cobertura analisada, o partidarismo encontra sua expressão na prevalência da dimensão moral da política no discurso jornalístico.
Autor: Natália Guimarães Duarte Sátyro
O objetivo do artigo é mostrar a existência de diferentes mundos de bem-estar no Brasil. Sugerimos aqui tanto a existência de distintos mundos de bem-estar entre os estados brasileiros quanto uma mudança fundamental em nosso sistema de proteção social no período posterior à Constituição de 1988. A conclusão é que a discrepância entre os mundos de bem-estar encontrados nos estados nos permite dizer que no Brasil há categorias distintas de cidadãos, com acessos diferenciados a serviços básicos. Os estados apresentam distintos legados e, portanto, distintas trajetórias nas três décadas analisadas, mas há uma tendência à convergência nesse bem-estar. Essa heterogeneidade se traduz em padrões distintos de segurança social. Para isso, a metodologia utilizada foi basicamente análise descritiva através de séries temporais e análise de conglomerado.
Autor: Rafael da Silva
Do conjunto de estudos sobre os impactos do Orçamento Participativo (OP), uma linha de investigação tem apontado seu potencial redistributivo, compreendendo-o como a concretização da equidade e do princípio da diferença, elementos estruturantes da concepção de justiça de John Rawls. Assim, este artigo averigua se esse potencial se concretizou na experiência de OP de Biguaçu-SC. Constata-se, diante do cruzamento dos dados de investimento per capita com o Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) por região, que, em partes, a experiência promoveu a justiça, porém, essa promoção esteve limitada pela mudança no desenho institucional da experiência, que impactou diretamente na redução da equidade.
Autor: Alessandro Freire
A teoria do capital social enfatiza a confiança interpessoal como um facilitador da cooperação entre os indivíduos, crucial para a formação de organizações autônomas da sociedade civil e para o engajamento dos cidadãos em questões de interesse público. Em que pese a centralidade da confiança para o conceito de capital social, pesquisas empíricas recentes têm demonstrado que o seu efeito sobre a participação cívica é, na melhor das hipóteses, fraco. Este artigo propõe um modelo empírico interativo, onde o efeito da confiança interpessoal é condicionado por elementos motivacionais da participação (expectativas de benefícios e percepções de custos). Usando dados do British Election Study (BES) de 2005, um survey conduzido no Reino Unido, testo o efeito condicional da confiança sobre a disposição dos indivíduos a se engajarem em diferentes tipos de ações coletivas. Os resultados apontam que o efeito condicional da confiança varia não apenas de acordo com variáveis motivacionais, mas, também, com o tipo de engajamento em questão.
Autores: Rossana Rocha Reis, Tainah Espíndola e Aureo de Toledo Gomes
Mediante aportes conceituais da Análise de Discurso Crítica de Norman Fairclough, o artigo analisa a política externa norte-americana durante o governo George W. Bush (2001-2008). De forma mais precisa, a partir da leitura de documentos oficiais selecionados, objetiva-se averiguar a construção discursiva das ameaças aos EUA, com ênfase em três pontos: a construção de identidades em torno do terrorismo transnacional e dos chamados Estados Falidos; a recepção e a reprodução do discurso e como estes sentidos influenciariam a ação política norte-americana; e como tais elementos contribuem para justificar a atuação internacional dos EUA. Ademais, em termos teóricos e metodológicos, espera-se contribuir ao demonstrar os potenciais da Análise de Discurso Crítica para o estudo das Relações Internacionais.