Opinião Pública – Vol. 26, Nº 3 2020
Artigos desta edição
Autores: Mario Fuks e Pedro Henrique Marques
Este artigo tem como objetivo avaliar o efeito da ideologia sobre o voto em Bolsonaro na eleição presidencial de 2018. Nosso argumento é que, após um longo período de ação discreta sobre o comportamento político dos brasileiros, os fatores ideológicos voltaram a ter relevância. A partir de uma perspectiva contextualista, apresentamos indícios de que a reorganização da direita no parlamento, nas ruas e nos meios de comunicação e a oferta de uma candidatura de extrema direita na competição eleitoral criaram condições favoráveis para o alinhamento, no eleitorado, entre a ideologia e a escolha eleitoral em 2018. Os dados revelam que o brasileiro está mais ideologicamente orientado e confirmam o impacto da ideologia sobre o voto.
Autor: João Victor Guedes-Neto
A teoria da ordenação social explica o comportamento do eleitorado brasileiro na disputa presidencial de 2018? A literatura americanista demonstra que o alinhamento de identidades sociais gera e reforça o partidarismo como uma identidade principalmente no campo da direita. Tendo em vista a relevância de temáticas de crença religiosa, raça e gênero nas eleições de 2018, cabe compreender se o mesmo fenômeno também se verifica no Brasil. Essa pergunta é respondida com testes econométricos baseados em dados de um survey nacionalmente representativo conduzido com 1.498 eleitores no primeiro semestre de 2019. As regressões logísticas binomiais e multinomiais demonstram que protestantes, brancos e homens têm preferência substantivamente superior pelo PSL em comparação aos demais partidos, tanto em termos de definição de voto como de identificação partidária.
Autores: Carolina Segovia e Ricardo Gamboa
Como os cidadãos decidem em quem votar nas eleições? As respostas tradicionais enfocam o papel do conhecimento político, identificação de partidos e avaliações do desempenho passado dos governos como variáveis explicativas. Neste artigo, avaliamos um argumento alternativo: o papel desempenhado pelas emoções. Usando dados de uma pesquisa realizada após as eleições gerais chilenas de dezembro de 2017, investigamos a associação das emoções com o voto em Sebastián Piñera e como as emoções interagem com outros fatores relevantes que se correlacionam com o voto. Concluímos que no Chile, juntamente com a identificação do partido e a avaliação de governos anteriores, as emoções dos eleitores em relação aos candidatos estão associadas à decisão do voto.
Autores: Carlos Fernando Osorio Andrade, Edwin Arango Espinal e Hector Augusto Rodriguez Orejuela
A pesquisa apresentada neste artigo analisa as estratégias dos anúncios políticos publicados no Twitter pelos candidatos para o segundo turno da eleição presidencial da Colômbia, em 2018. Foram identificados o propósito e o enfoque da mensagem de 425 posts e foi aplicado um modelo de regressão binomial negativo, para estabelecer os efeitos desses elementos na participação dos usuários no Twitter, medidos por número de curtidas, comentários e retweets. Houve duas descobertas relevantes: a) a publicidade política agressiva – quando os candidatos atacam ou se defendem contra um adversário – aumenta a participação do usuário no Twitter; b) as mensagens com questões pessoais do candidato têm maior apoio social do que publicações que abordam propostas políticas.
Autores: Emerson Urizzi Cervi, Sonia Terron e Gláucio Ary Dillon Soares
Se considerarmos apenas os filiados recentes a partidos políticos no Brasil, eles equivalem ao triplo dos votos recebidos por Jânio Quadros na eleição presidencial de 1960. Segundo a base de dados da justiça eleitoral brasileira, cerca de 16,8 milhões de eleitores estavam filiados a partidos políticos no final de 2018, o equivalente a 11,4% do eleitorado. Como os filiados se distribuem no Brasil? Que variáveis explicam as diferenças geográficas da filiação? Nossos objetivos são: 1) constatar o crescimento da filiação partidária nos municípios brasileiros nos anos eleitorais de 2014, 2016 e 2018; 2) analisar as variações entre eles, desde uma perspectiva socioespacial. É um estudo exploratório. Utilizamos métodos estatístico-espaciais e cartográficos para analisar a base de dados de filiação partidária. Constatamos uma teia de associações com indicadores sociodemográficos, econômicos e eleitorais. Queríamos saber o que mudou, quando mudou, onde mudou. Identificamos padrões de associações que apresentamos no artigo.
Autores: Anderson Henrique e Mariana Batista
Qual a relação entre o alinhamento partidário e a alocação de reconhecimento e recursos federais emergenciais para os municípios brasileiros? Propomos que, mesmo sendo os desastres dados pela natureza, a política importa para o reconhecimento federal e o valor em transferências recebido. O argumento é que o governo beneficiará os prefeitos alinhados, reconhecendo as declarações de emergência e alocando mais recursos para os municípios do mesmo partido. Considerando o presidencialismo de coalizão brasileiro, testamos três hipóteses para o alinhamento político: alinhamento com o presidente, com a coalizão e com o ministro da Integração Nacional. Apresentamos um banco de dados original com as declarações de emergência para os municípios e os valores transferidos para esse fim no período de 2010 a 2015. Utilizamos modelos de regressão de Poisson e um modelo em duas partes para testar nossas hipóteses. Os resultados indicam que as declarações são reconhecidas e as transferências de emergência são alocadas de forma a beneficiar os aliados políticos no nível subnacional, em especial os prefeitos alinhados ao ministro da Integração Nacional.
Autores: Fernanda Vick e Adrian Gurza Lavalle
O artigo apresenta estudo de caso em profundidade da Conferência Nacional de Educação (Conae), realizada em 2010, e sua incidência sobre o modelo de financiamento do Plano Nacional de Educação 2014/2024 (Lei nº 13.005). A Conae pode ser considerada caso de sucesso na incidência sobre a política setorial, porquanto o modelo de financiamento das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) e seu instrumento – Custo Aluno-Qualidade inicial – ganharam o status de lei contra as preferências de Poder Executivo federal, com base de sustentação majoritária no Congresso, ampliando as responsabilidades financeiras supletivas da União e viabilizando sua exigibilidade. O propósito do artigo é identificar e descrever o funcionamento dos mecanismos causais que operaram traduzindo as diretrizes da conferência em produção legislativa. Argumenta-se que é a política, ou melhor, os mecanismos causais ativados regularmente por atores políticos – e não as propriedades do desenho institucional das conferências e da participação que nelas acontece –, o que explica a incorporação das diretrizes em projetos de lei e, eventualmente, na produção legislativa. Na literatura, as Conferências ganharam centralidade porque foram identificadas como caso de notável efetividade da participação além dos canais eleitorais em escala macro devido a sua capacidade de informar a produção legislativa. Tal conexão restou estabelecida, mas não adequadamente esclarecida.
Autor: Rodolfo de Camargo Lima
O artigo investiga os efeitos do recrutamento político, de entrada lateral e sem concurso, sobre as atitudes e as percepções dos burocratas que atuam em ministérios brasileiros, aplicando técnicas de matching. Parcela da literatura associa os modos de recrutamento ao comportamento burocrático, sugerindo que diferentes processos seletivos gerariam incentivos distintos ao desempenho das atividades dos burocratas. A expectativa de efeitos do tratamento político sobre atitudes e percepções dos atores de entrada lateral foi parcialmente confirmada em 12% dos tópicos avaliados. De um lado, o poder de ação do tratamento apresentou efeitos políticos específicos, principalmente de natureza relacional. De outro, os resultados relativizaram a clivagem entre burocracia e política, inferindo que há mais tons de cinza nessa relação do que sugere a hipótese de divisão estanque entre ambas.
Autores: Manoel Leonardo Santos, Fernanda Cimini e Asbel Bohigues
Este artigo analisa as percepções dos parlamentares de 17 países da América Latina sobre relações econômicas e internacionais. A questão central é identificar os determinantes da formação das estruturas de preferências dos parlamentares. O artigo procura identificar quais são os determinantes que influenciam as opções expressas pelo parlamentar, colocando em contraste suas opções por relações políticas e econômicas entre países da região versus suas opções por países de outras regiões e as grandes potências econômicas. A análise está dividida em duas partes. A primeira é comparativa, utilizando estatística descritiva e análise de redes. Com essa análise são comparadas as legislaturas/países no nível agregado. A segunda parte desce ao nível do comportamento individual do parlamentar, buscando estimar, com a aplicação de modelos de regressão linear (OLS), o peso de diferentes preditores para a conformação das suas estruturas de preferências. O artigo conclui que as preferências dos parlamentares são fortemente determinadas por variáveis de contexto (estruturais) e por um alto grau de pragmatismo econômico, mas as ideias políticas continuam tendo alguma relevância. Embora em menor monta, a ideologia e as preferências por economias reguladas pelo Estado também ajudam a entender por que alguns parlamentares defendem mais regionalismo político e econômico que outros.