Opinião Pública – Vol. 24, Nº 2 2018
Artigos desta edição
Autor: Fernando Lattman-Weltman
O artigo apresenta uma teoria da demanda por informação política e seu modelo é aplicado à análise das sete eleições presidenciais brasileiras após o regime militar. O objetivo inicial da teoria é situar o potencial de influência política e eleitoral dos meios de comunicação sobre as escolhas dos chamados cidadãos comuns e dos militantes, conforme variáveis do contexto político e institucional. Ou seja: por que em determinadas circunstâncias a intervenção midiática parece influir decisivamente sobre as escolhas dos indivíduos e em outras não? Como é possível discernir tais variações sem os limites conhecidos das análises da oferta da informação política, que ou não dão conta da polissemia da recepção ou, quando o fazem, em escala mais reduzida e profunda, não podem ser generalizadas. De acordo com a teoria, a influência midiática é função da utilidade atribuída à informação política, a qual depende da fixação e da intensidade das preferências do eleitor e da margem de risco com que toma suas decisões, as quais, por sua vez, dependem da estabilidade e do grau de polarização política do sistema. São também brevemente indicados alguns dos outros potenciais da teoria.
Autor: Fernando Antonio Azevedo
O artigo examina, a partir do conceito de paralelismo político, a relação da “grande imprensa” do Brasil, formada pelos três grandes diários de circulação nacional, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo, com o petismo entre 1989 e 2014. A referência empírica são os editoriais publicados pelos jornais durante as sete últimas eleições presidenciais que têm como objeto o PT e seus candidatos. Os textos foram avaliados através da metodologia da análise de valência e agrupados em pacotes interpretativos. Os resultados mostram a predominância de editoriais negativos e o uso dos enquadramentos “populista” e/ou “corrupto” na narrativa sobre o PT e o petismo, tanto no período pré-governamental quanto no governamental do PT no plano federal.
Autores: Antonio Teixeira de Barros e Cláudia Regina Fonseca Lemos
Este artigo analisa as controvérsias midiáticas sobre os embargos infringentes do escândalo político do Mensalão. O pressuposto que guia a análise é que, com os jogos retóricos próprios do seu modo operatório de narrar o mundo político, a imprensa utilizou-se do enquadramento de pânico moral como pacote interpretativo para a cobertura do caso. O corpus reúne 150 textos publicados pelos principais jornais diários e revistas semanais brasileiros, no período de 12 a 19 de setembro de 2013, a semana do julgamento final do STF sobre os embargos. Os resultados mostram que a imprensa atuou como um ator moral na defesa do combate à corrupção política, questionando o direito à revisão das penas dos “mensaleiros”. Para isso acionou argumentos de autoridades e de especialistas, alinhados ao enquadramento de risco à sociedade e fragilização da democracia, associando o acolhimento dos embargos às representações de impunidade e desprezo pelo interesse público.
Autores: Márcio Cunha Carlomagno, Sérgio Soares Braga e Rafael Cardoso Sampaio
Este artigo apresenta os resultados de um experimento conduzido entre setembro de 2014 e julho de 2015 para verificar a responsividade dos parlamentares brasileiros a questões enviadas por cidadãos, sob distintas condições. Para isso, foram enviadas quatro rodadas de mensagens, ao longo do período, aos 513 deputados federais, controlando os incentivos. Testamos três fatores: a) o conteúdo da mensagem (potencial eleitor versus uma questão sobre votação de projeto de lei em plenário); b) o período em que a mensagem foi enviada (eleitoral e não eleitoral); c) a plataforma por meio da qual a mensagem foi enviada (e-mail e mídias sociais). Em geral, a taxa de respostas é muito pequena, indicando a baixa responsividade digital dos parlamentares brasileiros. O modelo de regressão logística demonstra que “período eleitoral” não exerce grande influência, que “incentivos do conteúdo da mensagem” aumentam em dez vezes a probabilidade de resposta e que “mensagens enviadas via mídias sociais” aumentam em nove vezes a probabilidade de resposta. Discutimos os resultados sob a luz da teoria dos incentivos políticos e da ampliação das possibilidades de accountability trazidas pelas ferramentas de comunicação política online. Acreditamos que a pesquisa abre caminho para futuras abordagens experimentais nessa seara.
Autores: Guilherme A. Russo, Roberta Gurgel Azzi e Charlene Faveri
Este artigo contribui para o estudo sobre confiança nas instituições no Brasil ao analisar os dados do Barômetro das Américas de 2014 e 2017 e de uma pesquisa original com 487 jovens em 2016. Os objetivos são: 1) identificar variações nos níveis de confiança em diferentes instituições e entre a população em geral e os jovens; 2) mapear como as opiniões sobre as diferentes instituições se relacionam entre si; e 3) analisar a relação entre experiências de participação política, consumo de mídia e confiança nas instituições. Os resultados apontam que as instituições políticas como partidos e eleições são vistas de forma negativa, principalmente quando comparadas às Forças Armadas. Análises fatoriais apontam que as opiniões sobre instituições se distribuem em duas dimensões – uma que captura a propensão a ter mais confiança nas instituições e outra que discrimina opiniões favoráveis às instituições militares. Finalmente, análises de regressão indicam que indivíduos que participaram de reuniões políticas e usaram menos a internet têm um nível de confiança mais alto nas instituições.
Autores: Mario Herrera e Mauricio Morales
Os sistemas de partidos institucionalizados podem coexistir com uma alta incongruência programática entre a elite e os cidadãos. Sistemas partidários menos institucionalizados, pelo contrário, poderiam estar em posição de gerar maior congruência programática. Analisamos essa aparente anomalia no Cone Sul da América Latina, comparando Argentina, Chile e Uruguai. Metodologicamente, usamos três medidas de congruência: médias, comparação de distribuições (many-to-many), distância entre eleitores e um representante típico (many-to-one). Nesta última medida, projetamos vários modelos de regressão para identificar as variáveis que predizem maior congruência. Concluímos que em sistemas estáveis as preferências eleitorais permanecem apesar da distância entre a elite e os eleitores em algumas áreas de competição, sendo o Uruguai o caso mais representativo.
Autores: Pedro Lucas de Moura Palotti e Pedro Luiz Costa Cavalcante
Os presidentes enfrentam um dilema de quem nomear para cargos no gabinete. Eles precisam produzir apoio legislativo para seu governo ao mesmo tempo que alcançam seus objetivos em termos de políticas públicas. O artigo analisa a alocação de portfólio escolhida pelos presidentes brasileiros em um sistema multipartidário. O estudo testa algumas hipóteses utilizando uma regressão logística multinomial para identificar as estratégias de nomeação adotadas pelos presidentes em quatro setores governamentais diferentes de 1990 a 2016. Para tanto, nós criamos o índice de politização ministerial e agregamos os ministérios nesses quatro setores, empregando análise de clusters. Os resultados mostram que as indicações no núcleo do governo tendem a ser menos politizadas. Ademais, as nomeações pessoais do presidente foram maiores nas unidades da presidência que realizam a coordenação política e as funções típicas do Estado.
Autor: Eduardo Matos Oliveira
Quais fatores determinam a criação das varas da Justiça do Trabalho no Brasil? Esse é o problema do artigo. De acordo com os critérios constitucionais, a população e a demanda judicial deveriam nortear a criação das varas judiciais. Porém, a literatura de acesso à justiça indica que talvez o desenvolvimento socioeconômico seja o fator determinante para o seu surgimento. Considerando que a expansão da Justiça do Trabalho ocorreu sobretudo, nas últimas décadas, foi possível realizar um modelo de regressão logística para testar o efeito de variáveis geográficas, socioeconômicas e demográficas na criação das unidades. Os resultados demonstraram que o impacto da população economicamente ativa e da proporção de pessoas cursando o ensino superior no município foram relevantes. Os municípios mais distantes das varas do trabalho já existentes e com menos unidades em funcionamento também foram mais contemplados na expansão da Justiça do Trabalho.